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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Diálogo

— Nem ligo. Eu quero que esse povo se dane. Tô cansada de "ter que" sempre alguma coisa pra ser aceita, para ser escutada. Tenho que ter cabelo "normal", tenho que ligar para as pessoas que não ligam pra mim (no figurado e no físico), tenho que ir, tenho que fazer, tenho que julgar...Só acho que devo começar a fazer o que eu quero.

— Nossa, que revolta!

— Mas é! Tô cansada disso. Acho incrível o povo se achar no direito de me cobrar coisas que não fazem o menor sentido, já que elas próprias não o fazem. Além disso, acho que quem caga pra certas coisas se aceita melhor e, consequentemente, é aceito (mesmo não precisando disso). Bem Luanapiovinismo mesmo.

— Mas também não é assim, né? Existem as convenções, as padrões...

— As babaquices...

— Se todo mundo fizesse o que desse na telha, o mundo estava o caos. "Ai, vou andar pelado na rua hoje, dane-se!"

— Por exemplo, o meu cabelo colorido influencia em que na vida das pessoas? O que o fato do fulano ser homossexual influencia na vida dos outros? Sicrano ser pobre/ rico/ branco/ negro/ católico/ crente ou macumbeiro vai mudar o que na vida de alguém que não seja?

Porra nenhuma!

— Não sei, faço o advogado do diabo. Tem que pesar os dois lados, por que cada coisa tem a consequência, né! Por exemplo, um gay assumido tem as consequências, um não-assumido, outras.

— Eu sei, mas não tô a fim de me preocupar os lados das coisas. Já me preocupei demais! O "problema" não é o fato de ser, mas das pessoas quererem ou não aceitar. Ninguém tem nada a ver com isso. Esse é o ponto. Se o cara quiser assumir ou não é uma questão interna dele, não dos outros. Entende o ponto de vista?

— Eu entendi, mas vale o risco? O estresse? A energia tem que ser focadas em outras coisas importantes. E olha que tudo isso por causa de um cabelo colorido que nem é tão grave! hahaha!

— Pra você ver... Risco de que? É só um cabelo!

— Sei lá, de perder trabalhos, de ser vista de outra forma. A gente ainda vive na formalidade.

— Mas é exatamente isso! Eu não quero viver com gente bitolada. Apenas.

— Mas gente bitolada paga bem.

— No meio que eu pretendo viver, não precisa ser "normal". Não quero ser jornalista, sentar na bancada. Não quero que vejam se meu cabelo tem um fio solto, se meu dente tá sujo de batom ou se eu gaguejei na hora de falar. Quero que vejam meu trabalho, o que eu faço. As pessoas quando conseguem se libertar, mostrar o que são, liberam também o lado criativo dentro elas. Não sentem medo de tentar, de ousar, de serem podadas pelo mundo. Não é só um cabelo que vai fazer isso. Começo a agir diferente e não agindo de acordo com o que o povo acha que eu tenho que fazer.

— É que eu fico preocupado com você. De ter que passar por isso "sem necessidade", entende? É duro não ser compreendido.

— Eu sei, eu sei de tudo! Só quero me livrar de TER QUE tudo.

— Por que a maioria das pessoas são como cavalos, usam aquele negócio para não enxergar ao redor.

— Pois eu quero seguir em todas as direções e, por isso, não passarei pelo caminho delas.

— Risos, xingamentos, agressões. Eu não tenho estrutura pra isso, ainda mais se eu posso escolher em ser "normal".

— Não quero esperar a oportunidade perfeita para finalmente abrir minha cabeça... Que me chamem de doida, drogada, ou que se surpreendam negativamente ou positivamente. Tentam me podar de todas as maneiras, meu jeito, minhas ideias, o que devo ou não fazer, e eu estava deixando fazerem isso.

— Esse é um dos motivos de eu não entender essa sede de ser diferente. Se vai causar tanto sofrimento e não vai mudar a cabeça das pessoas. Se fosse um artista famoso, poderoso, rico... Mas a pessoa é "normal", convive com gente real e não pode fugir disso quando quiser. É uma dinâmica que não entra na minha cabeça. Prefiro me adequar e não sofrer, do que tentar ser diferente e viver mal.

— Não posso me privar de ser eu mesma, deixando a sociedade colocar aquele tal negócio de cavalo em meus olhos. Existem tantas outras coisas para se fazer, pra se aprender, pra se ver... Simplesmente não posso.
Não sei de quem é a ilustração, se alguém souber, favor, avisar!

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