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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Amor platônico

Esta não é mais uma crítica sobre a banalização do "eu te amo", pois todos já estamos cansados de saber e nos meter nas vidas - e amores - alheios. Muito menos irei falar da manifestação pública, em textos ou atos, do afeto entre casais, pai, mãe, filho... Sabe, de quem a gente "realmente" conhece.

Será que é preciso conhecer para amar? Vejo amores platônicos por pessoas, lugares e coisas que só são saudáveis quando adolescentes somos. Aquela paixonite aguda que se desfaz quando surge outro objeto de desejo mais bonitinho. Aquele país que você sonha em conhecer, deve ser maravilhoso mesmo, pois é necessário desdenhar da própria nação, onde não conhece nem o estado vizinho, para exaltar um ambiente que só sabe da existência pelo que ouviu dizer. Até mesmo aquela bolsa que custa o triplo seu salário, mas você a deseja tanto que despeja todo o seu amor por aquele objeto que sairá de moda em duas estações.

A capacidade e necessidade de amar do ser humano é algo admirável, porém inacreditável. Essa busca interminável por mergulhar em um universo de alguém que não sabe da sua existência, que não o conhece e, muito pior, que só mostra a face que deve ser revelada em público. Como amar parte da pessoa ou o que ela transparece ser? Seja aquele menino bonitinho da sua sala ou até aquele cara que aparece para você todas as noites na TV. Penso que esse distanciamento gera curiosidade, curiosidade gera busca, uma busca eterna do inalcançável e essa fixação pode gerar esse tal amor.

O que chamo de amor platônico não se limita a pessoas, como já disse. É essa mania do ser humano de desejar  e dizer que ama algo só por existir, como se aquilo fosse essencial para a existência. É essa intensidade exagerada desnecessária, o consumismo sem consumir, o ver para ter. Elogiar, ser elogiado, tudo faz parte, porém enquanto o outro usa atributos para ficar apresentável e fazer seus olhos brilharem, faça com que os olhos de outros brilhem por você também.

O ponto não é a adoração em si, mas a veneração de algo inalcançável. Quanto mais distante da nossa realidade, mais interessante o objeto se torna. Por que não olhamos para o lado e vemos as grandiosidades que nossos amigos, parentes ou vizinhos se tornaram? Talvez por que conheçamos também seus defeitos, o que equilibra essa relação de admiração e repulsa.

E o que dizer do amor do brasileiro por outros países. Relação às cegas, já que a maioria nunca saiu nem do seu próprio estado. Acredito que grande parte tem a vontade de conhecer outros lugares, culturas, pessoas e línguas. E, logicamente, cidades turísticas irão mostrar o que há de melhor para atrair mais pessoas e, consequentemente, mais dinheiro. Então, não acredite na ilusão que criaram sobre a perfeição daquele país.

Falar mal do Brasil faz sentido, lógico, pois a maioria das regiões não tem saneamento, asfalto, coleta de lixo, mas você não está pregado naquele espaço Conheça outros lugares, ninguém te impede, nem te impossibilita, também, de votar em quem irá fazer algo melhor pelo local onde vive - mas isso é assunto para outra postagem.

Por isso penso que muitas vezes devemos que nos distanciar das pessoas que não valorizam o que fazemos, não acreditam no que somos e o não entendem o que pretendemos para que esse afastamento faça despertar a curiosidade e, consequentemente, o amor e o fascínio. Talvez seja este o caminho das pedras para aqueles que são o oposto das ideias acima: os que são, que tem, que vivem.

por Daniel Cramer

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