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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Vovó moderna, garota antiquada

O valor de algumas coisas é imensurável. Sentimentos, momentos. É incrível quando conseguimos guardar com precisão na nossa memória os detalhes, o cheiro, a sensação. Porém, percebo que o aproveitamento da vida fora das redes tem diminuído com o passar das décadas e, por isso, me dou o direito de pensar que a maioria de nós não será vovôs e vovós cheios de histórias para contar, mas aqueles velhos rabugentos reclamando do que acontece, deixou de acontecer ou ainda nem aconteceu!

Um pouco da culpa podemos colocar na internet, na verdade, no nosso comportamento online. Já perceberam que as pessoas mais divertidas, que seguimos e curtimos, são as mais mal humoradas? E é triste saber que grande parte dos que acompanham esse tipo de humor leve esse comportamento para a vida real.

Quando a internet surgiu - para nós, meros mortais - tudo era uma grande novidade. Xingávamos como anônimo pela emoção de não sermos descobertos. O importante não eram as frases, pois não precisávamos de camuflagens para algo que falaríamos com as pessoas ao vivo, se necessário. Até por que só ofendíamos mesmo nossos inimigos, mas hoje esse artifício também está servindo para humilhar os próprios amigos.

Fico pensando seriamente nos assuntos que serão contados para os nossos netos. Seriam as declarações de ódio gratuitas, a descoberta do significado da palavra recalque e as interpretações de textos mal feitas que nos levaram a pessoas que não gostaríamos que existissem? Belas historinhas essas, não? Além dos memes e virais que tem durado menos de 24h e surgido em uma média de 5 vezes por semana. Haja memória para lembrar de todos, mas o Google está aí para isso.

Sim, eu dependo do computador. Trabalho nele, estudo com ele e compartilho ideias através dele. Passo em média 10h sentada em frente de um todos os dias. Por isso torço pela chegada do fim de semana. Não para descansar, mas para me libertar. Não quero um mediador sempre. Também não preciso de lições de moral com imagens bonitas, pois meu caráter está mais que definido e as paisagens... prefiro vê-las ao vivo, obrigada.

Em vez de fingir viver, prefiro só viver. Dá menos trabalho. Não quero só compartilhar coisas que vi através de uma tela luminosa, quero, eu mesma, estar presente nos acontecimentos, passar perrengue, comer fora, ver o tempo mudar, passar, virar. Quero ter minhas próprias histórias pra contar.

por André Dahmer

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